Engajamento de crianças e adultos mobiliza microrrevoluções ambientais
Desde o momento em que acordamos, nossas rotinas são repletas de pequenos rituais de higiene e de beleza. Escovar os dentes, tomar banho, usar cremes e sabonete são apenas alguns deles. Porém, quantas pessoas refletem sobre o impacto causado por esses produtos no meio ambiente?
Cada indivíduo possui um papel significativo no cuidado com o planeta. Pequenas ações de redução ou mudança de hábito, que podem ser feitas no dia-a-dia, fazem a diferença e, segundo as idealizadoras do Verdes Marias, podem ser chamadas de microrrevoluções, pois o conjunto dessas escolhas influencia nosso entorno de maneira revolucionária.
As microrrevoluções ocorrem em esferas variadas da rotina, como na seleção dos alimentos, na redução do lixo, no apoio a pequenos produtores e no hábito da reciclagem. O podcast “Contos da Capivara”, cujo objetivo é inspirar crianças e seus familiares a adotarem práticas sustentáveis, é norteado pelas microrrevoluções. Criado pela produtora Poétika e pelo Verdes Marias - movimento de três irmãs que estimulam a busca por uma vida mais sustentável, o podcast utiliza contos infantis inéditos de autores brasileiros para engajar toda a família no tema.
Mariana Moraes, uma das idealizadoras do Verdes Marias, conta como o podcast é uma poderosa ferramenta para incentivar crianças e adultos a ingressarem nessa jornada: “Com o Contos da Capivara entramos na vida e na rotina das famílias, mas de forma leve e descontraída, capaz de gerar uma provocação. O formato de narração de histórias é capaz de tirar as crianças das telas e incentivá-las a usar a imaginação. Já recebemos muitos relatos de mães e crianças que foram aos poucos mudando sua forma de olhar para o consumo e descarte”.
Algumas das microrrevoluções que ela pratica com seus filhos são: compostar junto, separar o lixo, usar escova de bambu e muito mais.
Essas pequenas decisões em prol do meio ambiente podem ocorrer aos poucos, conforme aumenta a conscientização e o planejamento familiar. A empreendedora Isabel de Barros ouve o “Contos da capivara” com os filhos e já começou a seguir algumas sugestões. “Aprendi a passar casca de mamão na pele para hidratar, uso esmaltes sem componentes tóxicos e guardo muitas dicas de marcas mais ecológicas”.
A família de Isabel desfruta do entretenimento e da leveza trazidos pelo podcast para incorporar as orientações no cotidiano. A empreendedora sempre carrega um canudo reutilizável na bolsa e todos separam o lixo para reciclagem e compram roupas de segunda mão. “São várias ações que você vai construindo em casa, como ter uma boa alimentação. Recebemos uma cesta de orgânicos, pegamos frutas na mão, as crianças comem mais legumes do que antes. Tudo isso é uma construção e faz parte da rotina”, descreve.
Informação e exemplos familiares aumentam discernimento crítico
Nina Valentini, produtora-executiva do “Contos da Capivara”, conhece muito bem a importância das microrrevoluções. Há 15 anos, ela se dedica ao aprimoramento de estratégias de impacto de organizações sociais e, nessa trajetória, foi presidente do Movimento Arredondar, que coleta micro doações para ajudar projetos socioambientais. A história de Nina é emblemática ao mostrar como o exemplo familiar e a informação estimulam a revisão de hábitos.
Ela cresceu em uma família muito engajada e uma de suas experiências mais marcantes foi um trabalho voluntário no Vale do Jequitinhonha (MG). “Eu tinha 14 anos e isso inspirou minha vontade de trabalhar nessa área. Fazia trabalho voluntário com minhas irmãs em todas as férias. Foi muito pela experiência voluntária que me aproximei dos temas de impacto social. O voluntariado me abriu as portas para um país que eu não conhecia”, narra.
Com o decorrer dos anos, esse cuidado passou a incluir a área ambiental. “Como trabalhei muitos anos no Arredondar, a gente sempre falava que arredondar centavos é um jeito de fazer uma microrrevolução no seu dia-a-dia porque você doa dentro de um processo que está acostumado a fazer e não pesa no bolso. Quando me aproximei do Verdes Marias, comecei a entender outras possibilidades”.
Nina é mãe de duas meninas. Todas utilizam um kit que inclui sacola de pano, dois canudos de inox e copo reutilizável para reduzir a produção de lixo. Elas também fazem compostagem, checam a origem do que compram, consomem orgânicos e incentivam pequenos produtores. Ela aconselha que essas mudanças sejam feitas paulatinamente para que ocorram de maneira natural.
“Acho que quanto maior for a difusão dos impactos e mais simples forem as dicas, será mais fácil alcançar um número maior de pessoas. O mais desafiador, no contexto das crianças, é elas entenderem o impacto, que é algo muito plausível para adultos, mas não no universo infantil. O podcast ajuda a conectar as histórias com a ideia de que dá para fazer de outro jeito e simplifica isso para as crianças acharem divertido”, conclui.
Educação ambiental é tarefa coletiva
O descarte incorreto de uma escova de dentes de plástico, por exemplo, é extremamente prejudicial à natureza, já que o material demora mais de 400 anos para se decompor e se acumula nos oceanos. A população mundial soma quase oito bilhões de indivíduos e, se cada um deles seguir a recomendação de trocar a escova de plástico a cada três meses e jogá-la no lixo comum, os prejuízos serão alarmantes.
A mesma lógica pode ser aplicada a outros produtos, como shampoos e condicionadores líquidos. Estima-se que os cosméticos convencionais utilizem mais de 10 mil POPs (poluentes orgânicos persistentes), que são substâncias altamente resistentes à degradação que escoam pelos ralos, contaminando os mares e os lençóis freáticos.
Muitos desses cosméticos contêm embalagens de plástico e microesferas, ou seja, pequenas esferas de plástico derivadas do petróleo e que não são biodegradáveis. As micropartículas poluem os oceanos e são ingeridas por animais marinhos. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os plásticos representam 85% do lixo marinho e esse volume irá triplicar até 2040. Caso esse cenário permaneça, em 2050, o volume de plástico poderá superar o de peixes nos mares.
Anualmente, oito milhões de toneladas do material acabam nos oceanos e acarretam a morte de 100 mil animais. Entre eles estão tartarugas, focas, golfinhos, aves marinhas e peixes. Isso acontece devido a múltiplas ações humanas que estão longe de serem inofensivas. Por isso, é vital examinar o elo entre a preservação ambiental e nossos hábitos diários e esforçar-se para alterá-los para reverter esse panorama.
“Contos da Capivara” está disponível no Spotify, Anchor e outros dispositivos
Todos os episódios do podcast “Contos da Capivara” possuem o apoio técnico de organizações como o Greenpeace, Famílias pelo Clima, Sea Shepherd, Instituto Ipê, Menos 1 lixo, entre outras, e contam com a participação da Clara, a Capivara, que traz dicas de como ter uma vida mais sustentável. O podcast tem 8 histórias inéditas escritas por autores brasileiros da literatura infantil, como Claudia Vasconcellos, Kiusam de Oliveira, Edson Natale, Julia Medeiros, Marcelo Maluf, Thata Alves, Caru Ricardo e Ciro Campos do Planeta OCA.
Quem quiser acompanhar a série “Contos da Capivara”, pode acessar pelo Spotify (https://spoti.fi/3Lh0v4i) ou pelo Anchor (Contos Da Capivara • Um podcast na Anchor). O conteúdo é gratuito e pode ser escutado diversas vezes, sem moderação. Mais informações, acesse www.verdesmarias.eco.br.
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